Nenhuma outra doença, para a qual já existe pelo menos uma vacina disponível, matou mais crianças no Brasil no ano passado do que a COVID-19. Mesmo assim, as crianças, por apresentarem na maioria um quadro leve ou assintomático da doença, são o grupo menos testado para a presença do vírus. Consequentemente, o número real de casos de COVID-19 em crianças é subestimado. Como elas não estão vacinadas, funcionam hoje como um reservatório para o SARS-CoV-2, contribuindo tanto para a disseminação do vírus como para o surgimento de variantes. As crianças provavelmente têm sofrido múltiplas infecções pelo vírus, uma vez que a imunidade conferida pela variante original não protege contra as que circulam atualmente. Ainda assim, é esperado que as crianças retornem, mesmo sem vacinação, a frequentar escolas e creches, na forma presencial. Os efeitos que essas reinfecções terão a longo prazo na saúde dessas crianças são desconhecidos. Além dos efeitos da infecção aguda e suas consequências, a síndrome inflamatória sistêmica associada à COVID-19 (chamada de MISC), é um risco real para a saúde das crianças que se infectam com o SARS-CoV-2 – e não existe hoje uma maneira de prever quais crianças tem mais chances de desenvolver a síndrome.
No dia 16 de dezembro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da vacina Cominarty, da Pfizer-BioNTech, para uso em crianças entre 5 e 11 anos. Essa decisão foi baseada em uma extensa análise dos resultados dos estudos clínicos apresentados pelo fabricante, realizada por técnicos da Anvisa e profissionais experientes representando sociedades científicas de especialidades ligadas a esse campo. Foram também analisados dados de outras agências regulatórias, como a FDA e a EMA, que já autorizaram previamente o uso dessa vacina para essa faixa etária: atualmente, mais de dez milhões de crianças já foram vacinadas para essa vacina em outros países. O parecer, unânime, foi de que a vacina é segura e eficaz, e adequada para inclusão no Plano Nacional de Vacinação. A Sociedade Brasileira de Imunologia participou dessa análise e apoia esta decisão. Ao mesmo tempo, repudia a todos os que propagam informações incorretas, buscando semear a dúvida neste que é um crucial instrumento de promoção de Saúde Pública. Como imunologistas, esclarecemos que a imunidade gerada pela infecção não substitui a imunidade vacinal. A resposta imune protetora gerada pela infecção é altamente variável, podendo ir de nenhuma resposta a uma alta resposta protetora. Já a imunidade por vacinação evita esses processos, uniformizando a resposta e gerando mecanismos protetores eficientes, demonstrados em estudos de imunologia básica e clínica.
Em resumo, o uso da vacina contra a COVID-19 em crianças no cenário atual da pandemia traz benefícios claros do ponto de vista individuais e coletivos, de forma segura e eficaz. Assim, a SBI reforça a recomendação para todos os pais e familiares que vacinem suas crianças, garantindo seu direito à saúde e à vida.
07 de janeiro de 2022
Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI)